Saúde do trabalhador: especialistas falam sobre principais problemas e como evitar o adoecimento de profissionais

simpósio Internacional sobre Felicidade Interna Bruta

Você sabia que das dez principais causas de incapacitação para o trabalho, cinco são doenças psiquiátricas? Nessa lista estão a depressão, a esquizofrenia, o transtorno bipolar, o alcoolismo e o transtorno obsessivo-compulsivo, o TOC. Renata Nayara Figueiredo, médica psiquiatra e presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, APBr, comenta que a saúde do trabalhador precisa ser vista por diferentes ângulos e que o adoecimento pode estar relacionado a diversos fatores.

“O trabalhador pode adoecer por vários motivos, como a falta de reconhecimento do seu esforço, cobranças por desempenho, premiação, competição, ritmo de trabalho penoso, monótono ou em turnos, baixa autonomia, demissões inesperadas em períodos de crise, entre outros”, exemplica. “Todos esses fatores podem afetar as representações do sujeito sobre si mesmo, e, com isso, gerar repercussão em sua vida pessoal provocando mudanças de comportamento e de humor”, pontua.

Para ela, o preconceito e a falta de informação dificultam o diagnóstico, uma vez que as pessoas evitam procurar tratamento porque temem o estigma de doente mental. “Outra questão é a culpabilidade do trabalhador. Antes, embora reconhecendo situações nocivas, a culpa do adoecimento era das características do funcionário e hoje sabemos que a organização do serviço também influencia no surgimento de doenças”, destaca.

Segundo uma pesquisa realizada na clínica Med-Rio Check-up, no Rio de Janeiro, o estresse crônico representa o principal fator de risco para a saúde dos executivos: três em cada cinco homens e uma em cada três mulheres sofrem do mal. Após realizados mais de 30 mil check-ups em executivos de ambos os sexos, observou-se que 50% usam álcool regularmente (como relaxante pelo excesso de adrenalina produzida), 26% têm insônia, 25% apresentam alterações das gorduras sangüíneas, 19% têm hipertensão arterial, 16% sofrem de gastrite, entre outros males.

Renata continua: “a saúde do trabalhador é ameaçada porque o equilíbrio psíquico é danificado pelo meio em que vive ou trabalha, e não pela própria estrutura emocional da pessoa. São ambientes que apresentam ‘insalubridade psíquica’”. De acordo com a especialista, essas pressões emocionais constantes não permitem que o profissional trabalhe em toda a sua potencialidade.

Além disso, estudos revelam que o estresse excessivo no ambiente de trabalho interfere no raciocínio lógico, na memória e na habilidade de decisão, de modo que se torna de grande importância a adoção de medidas de prevenção a fim de que a busca pelos resultados positivos no trabalho seja superada pelas condições malignas em que é exigido o esforço da produção.

Há como evitar o sofrimento mental no trabalho?

Conforme a psiquiatra, sim! Promovendo uma comunicação aberta entre os diversos funcionários da instituição, demonstrando apreço e reconhecimento em cada trabalho realizado, e ainda, investindo em relações de imparcialidade, confiança e respeito mútuo nas organizações. “Essas ações podem construir contextos que priorizam a saúde em detrimento do sofrimento mental”, pondera.

Promoção da saúde mental no trabalho
Comprovadamente, a felicidade tem impacto relevante na produtividade de funcionários e gestores de pequenas, médias e grandes organizações. Segundo estudos realizados por Greenberg & Arawaka, a felicidade tem até 31% de incremento em produtividade. Além disso, de acordo com a Forbes, impacta na redução em Ausências por Doença em até 66%.

Segundo Renata, a qualidade de vida no trabalho refere-se não só às condições adequadas e boas relações socioprofissionais, mas compreende também o reconhecimento do trabalho realizado e possibilidades de crescimento profissional. Para tanto, é fundamental o equilíbrio dos aspectos das necessidades humanas: biológicas, psicológicas, sociais e organizacionais.

“No tangente à saúde mental, a presença de políticas fortes de Promoção da Saúde e Qualidade de vida são fatores protetivos de adoecimento e afastamentos, como, por exemplo, diminuição da incidência de Síndrome de Burnout, problema de saúde pública que aumenta a morbimortalidade por infarto, diabetes, depressão, acidente de trabalho e suicídio, além de estar diretamente relacionada ao absenteísmo”, acrescenta.

Carla Furtado, mestre em Psicologia e fundadora do Instituto Feliciência, afirma que se preocupar com a felicidade do trabalhador é uma urgência. “A terceira década do século 21 será marcada por desafios ainda maiores para a sustentabilidade das organizações. Neste cenário, destacar-se-ão as empresas que compreenderem que a Felicidade de quem trabalha não se traduz em custo, mas em investimento, e que não se trata de uma responsabilidade de RH, mas da alta gestão”, garante.

Para ter um ambiente de trabalho mais feliz, sustentável e trabalhadores mais saudáveis mentalmente, Carla lista quatro dicas para mudar a relação do trabalhador com a equipe, gestores e ambiente em que trabalha:

Identifique Propósito

Se você está em busca de propósito no trabalho que já possui, verifique de que forma pode expressar melhor suas forças e talentos e, também, reconheça como sua atividade contribui para a sociedade. Se você pretende encontrar outro trabalho em 2021, além de considerar os quesitos anteriores, procure oportunidades em empresas cujos valores estejam alinhados aos seus valores. E se você não está feliz, mas não pode considerar trocar de trabalho neste momento, identifique como sua atividade atual colabora para que você possa cruzar a ponte em direção ao futuro desejável.

Engaje-se

Para estimular uma mudança de comportamento, vale lembrar do estudo que evidenciou que uma mente dispersa é uma mente infeliz (Killingsworth e Gilbert, 2010). Dessa forma, é essencial reduzir as interrupções ao longo do turno de trabalho, em especial as checagens no celular e nas redes sociais, que podem passar de uma centena em um único dia.
Esteja atendo às condições ambientais que propiciam engajamento, como temperatura e aspectos sonoros. Algumas pessoas preferem trabalhar no silêncio, enquanto outras produzem melhor com música. Para muitas, esconder os relógios, inclusive aquele apresentado no monitor, colabora para a absorção. E, para todas, é benéfico celebrar as entregas.

Aumente Sua Reserva de Resiliência

Resiliência é uma habilidade e por isso pode e deve ser aprendida e desenvolvida. São muitos os estudos que atestam que a prática regular de atenção plena colabora para o aumento da reserva de resiliência. O neurocientista Richard Davidson destaca o papel da educação da atenção para o aumento da resiliência ao estresse: há uma correlação direta entre o número de horas de prática de Mindfulness e o tempo de recuperação após uma reação emocional a uma experiência negativa.

Cada vez mais empresas inserem meditação e outras práticas de atenção plena em suas rotinas. Se você lidera um time, pode ser uma boa iniciativa em 2021.

Seja Bom

Estabeleça um comportamento pró-social, que privilegia a capacidade de formar conexões fortes e uma rede de apoio real no trabalho. A bondade genuína, expressa por empatia e compaixão, é capaz de incrementar o bem-estar de quem pratica os atos de bondade, não apenas de quem os recebe.