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Crítica: “Judy: Muito Além do Arco-Íris” não convence

Cena do filme Judy - Muito Além do Arco-Íris" em que a Atriz Renée Zellweger canta usando um vestido florido. Ao fundo é possível ver a banda que a acompanha na apresentação

Quais elementos ajudam um filme a conquistar o público? Uma boa fotografia? Direção e atuação? Também. Mas principalmente a história que ele está tentando contar. Isso inclui ter uma narrativa envolvente e personagens carismáticos, elementos que faltam e muito em “Judy: Muito Além do Arco-Íris”, apesar do filme ter domínio sobre os elementos técnicos.

A produção é uma cinebiografia de Judy Garland (interpretada por Renée Zellweger, que disputa o Oscar de 2020 na categoria Melhor Atriz). Judy é um ícone do cinema, lembrada por interpretar a Dorothy do famosíssimo O Mágico de Oz, em 1938. Em vez de fazer uma viagem panorâmica pela biografia da personagem, que é a postura adotada por muitos filmes biográficos, o roteiro foca em um período específico da trajetória de Judy. Depois da fama, com a carreira “em baixa”, a atriz precisa enfrentar um divórcio, a briga pela guarda dos filhos, além de lidar com alcoolismo e abuso de medicamentos. Com problemas financeiros ela é forçada a tomar decisões difíceis para reinventar sua carreira. 

O recorte narrativo é uma escolha interessante, que poderia render. Não é uma jornada em busca de um grande feito, de redenção ou em direção a um grande ato de heroísmo. Conhecemos uma Judy quarentona, deprimida, que luta para voltar a ter a atenção do público. Só somos introduzidos ao passado de Judy através de flashbacks. 

O problema da narrativa é que ela não consegue convencer o espectador de que os temas centrais do filme realmente têm alguma importância. A história fala muito sobre os problemas por trás da indústria do entretenimento ao mesmo tempo que diz que o objetivo da personagem é conseguir algum dinheiro para viver como uma pessoa normal perto dos filhos. Não convence. Vemos na tela uma Judy tomada por vícios e cujo único desejo é ser amada pelo público e receber aplausos (isso não é interpretação – no filme a personagem diz isso) e deixa uma certa impressão de uma Judy orgulhosa e narcisista. Não tenho conhecimento suficiente para dizer se Judy Garland realmente era assim ou se foi algo que surgiu na cinebiografia. De qualquer forma, não somos convencidos a torcer pelos objetivos da personagem e o filme perde carisma. Talvez o erro do roteiro seja tentar surfar na onda de cinebiografias (como Rocketman e  Bohemian Rhapsody) e presumir que o público vai chegar no cinema já sabendo quem é e já se importando o suficiente com Judy Garland para sentir as dores da personagem.

“Judy: Muito Além do Arco-Íris” é um filme feito com aquela conhecida fórmula para premiações, especialmente o Oscar – é uma drama que massageia o narcisismo de Hollywood ao falar sobre a própria indústria cinematográfica. É uma grande e cara produção inspirada em fatos reais, tem boa fotografia e bons atores. O problema é justamente que é um filme feito da indústria para a própria indústria. Para o público, tem uma boa chance da história ser desinteressante.

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