Em um certo dia nos anos 1600, Claudio Monteverdi (1567-1643), um compositor de bastante renome na transição entre a Renascença e o Barroco, escreveu o madrigal “Se per havervi, oimè, donato il core”, baseado em um texto anônimo, envolvendo aquelas palavras em linhas melódicas, que entrelaçadas vestiam o texto em um ambiente sonoro que seria apreciado pela corte veneziana. Esse madrigal foi publicado em 1621, no “primo libro de madrigali a cinqve voci” juntamente com uma coleção de outros madrigais do mesmo compositor.
Em um certo dia dos anos 1980, Morten Lauridsen (1943- ) se deparou com o mesmo texto anônimo e também o envolveu em linhas melódicas, que também entrelaçadas, vestiam aquele texto em um ambiente sonoro que faria sentido para os ouvidos da sociedade atual. Este madrigal foi publicado em 1987 dentro do ciclo “Madrigali: Six ‘Fire Songs’ on Italian Renaissance Poems for a cappella chorus”.
Quase quatrocentos anos separam um evento do outro e as músicas criadas por estes compositores, baseadas sobre o mesmo texto, se apresentam de formas absolutamente diferentes, refletindo a mudança do pensamento composicional ao longo desses séculos.
Tomando esse acontecimento como fio condutor, o Grupo Madrigal de Brasília selecionou um repertório que busca ilustrar isso: Composições sobre os mesmos textos, ou textos aparentados, sendo uma feita entre os séculos XVI e XVII e a sua correspondente compostola entre os séculos XX e XXI.
São composições sacras e seculares que falam de amor, desejo, dor, paixão, adoração e êxtase. Nesta noite, trazemos para vocês, esses sentimentos tão inerentes à alma humana, retratados nas composições de Gregor Aichinger (1564-1626), Tomás Luis da Victoria (1548-1611), Antonio Cifra (1584-1629), Orlando di Lasso (1532-1594), Philipe Verdelot (1485-1552), Luca Marenzio (1556-1599), Carlo Gesualdo (1560-1613), Claudio Monteverdi (1567-1643), Johann Staudenhecht (1585), Morten Lauridsen (1943), Ola Gjeilo (1978), André Vidal (1971) e Ronaldo Miranda (1948). Os compositores são vários e os contemporâneos são todos compositores vivos e todos em atividade. A regência do concerto fica a cargo do Maestro Deyvison Miranda e a apresentação contará com a participação do ator Josuel Junior nas leituras entre as canções.
O Madrigal de Brasília nasceu com a chegada do maestro Levino de Alcântara a Brasília na década de 1960. Levino juntou outros educadores e deu aula em diferentes colégios no Plano Piloto e em Taguatinga. Dessa experiência, criou o famoso Madrigal de Brasília, um dos corais mais respeitados do Brasil, com repertório vocal que abrange todos os períodos da música ocidental. Foi a partir do Madrigal que surgiu a popular EMB, hoje com sede definitiva na Asa Sul.
A apresentação de “Madrigali – Diálogos entre a Renascença e o Contemporâneo” é gratuita e promete emocionar e encantar o público que comparecer à Escola de Música na sexta-feira à noite.
“Madrigali – Diálogos entre a Renascença e o Contemporâneo” – Regência: Maestro Deyvison Miranda
Teatro Levino de Alcântara – Escola de Música de Brasília – 602 Sul – Via lateral da L2 – Entrada Gratuita – 20h