Teatro do CONIC recebe de volta cristal da fundadora

Um mutirão de trabalho mobilizou artistas, professores, ex-alunos e entusiastas para limpeza e organização do Teatro Dulcina. Em um único dia de trabalho, mais de 100 figurinos históricos foram inventariados. Com ajuda voluntária, um grande cristal de quartzo foi recolocado em seu local de origem

Um mutirão de trabalho mobilizou artistas, professores, ex-alunos e entusiastas para limpeza e organização do Teatro Dulcina. Em um único dia de trabalho, mais de 100 figurinos históricos foram inventariados. Com ajuda voluntária, um grande cristal de quartzo foi recolocado em seu local de origem.

Após uma mobilização pelas redes sociais, artistas, professores, seguidores de redes sociais e incentivadores do Teatro Dulcina compareceram numa ação histórica. O prédio não recebia visita do público desde o início da pandemia, quando as atividades foram pausadas. Com o corte da energia elétrica, o local ficou sem luz por três anos. Ainda assim, voluntários das áreas de pesquisa teatral, da moda e da museologia estão há mais de um ano trabalhando no escuro no intuito de terminar o inventário do rico acervo cultural da atriz Dulcina de Moraes e de suas companhias teatrais.

O prédio tombado acumulava dívidas com a Neoenergia, chegando ao valor de R$ 480 mil. Negociações com a distribuidora permitiram reduzir os débitos e ganhar prazo para o pagamento. As negociações fazem parte da estratégia adotada pela atual gestão da fundação, que precisou mapear os problemas de administrações passadas para reconquistar a confiança dos órgãos do DF e dar sequência às atividades culturais no espaço. A estimativa é agora tentar parcerias para que, em um ano, o teatro possa voltar a ser acessível ao público. Será necessário um trabalho rigoroso para reabertura do espaço.

A Neoenergia cancelou os juros atrasados, concedeu uma entrada de R$ 15 mil e permitiu parcelas de R$ 4 mil mensalmente, o que possibilitou o pagamento. Dessa forma, a dívida saiu dos R$ 480 mil para R$ 65 mil e também foi feito um acordo para renovar a estrutura e ter mais economia energética.

Ligar a luz é o primeiro passo para que a equipe possa tentar resolver outros problemas acumulados pelas antigas gestões com o passar dos anos. Somente com esse mapeamento, as dívidas trabalhistas e as articulações acadêmicas da Faculdade, que ocupa o mesmo prédio do teatro, poderão ser resolvidas, caso a caso.

De acordo com os organizadores da ação, 100 figurinos foram inventariados e fotografados em apenas um dia de trabalho – a média comum é de 28 figurinos por semana, visto que a equipe fixa é composta por quatro integrantes. Com o adiantamento do inventário dos figurinos, as museólogas Desiree Calvis e Letícia Amarante acreditam que 80% do inventário têxtil foram concretizados. No entanto, elas alegam que ainda precisam de ajuda para o inventário das fotografias. Das mais de 2.500 existentes, 200 já passaram por revisão e ganharam número de série.

O movimento de pessoas no Teatro Dulcina e suas dependências durante o mutirão foi estimulante. Ao longo do dia, mais de 25 pessoas circularam pelo espaço. Artistas como André Amahro, Liduina Bartholo, Glória Teixeira, Maria Eugênia Félix e Alaôr Rosa apareceram para apoiar a ação. Do conselho curador da FBT, Raimundo Nonato marcou presença e parabenizou o trabalho desenvolvido.

Com muitos baldes de água (visto que os acordos com a CAESB ainda estão em andamento para religar a distribuição), funcionários e voluntários se desdobraram para higienizar as mais de 300 poltronas e 100 cadeiras do teatro.

A divisão de equipes foi primordial para a dinâmica do trabalho. No laboratório técnico montado no subsolo do prédio, a designer de moda Tabatta Barcelos ficou responsável por orientar entusiastas na busca por itens raros do acervo. No laboratório técnico principal, a consultora de corte e costura Ana Maria da Silva orientou os recém chegados na tarefa de costura de etiquetas. O fotógrafo Bruno Gustavo ficou responsável pelo registro, enquanto uma equipe corajosa assumiu a missão de levar o cristal de Dulcina, que por 26 anos esteve no túmulo da atriz, ao seu local de origem, na própria sede da Fundação Brasileira de Teatro. A decisão de levar o cristal de volta ao prédio foi tomada pela atual gestão após análise dos diários e escritos de Dulcina de Moraes, além de entrevistas com parentes vivos que conheciam o lado místico da artista. O imponente mineral foi colocado no prédio ainda nos anos 1970 e tinha a função de alinhar energeticamente boas energias para a fundação. Há ainda a indicação de outros cristais enterrados no alicerce da construção.

Equipe transportanto o famoso cristal – Foto: Bruno Gustavo / Divulgação

O mutirão faz parte das ações da Direção Cultural da FBT e teve como foco potencializar o trabalho de inventário do acervo cultural de Dulcina de Moraes para fins de tombamento dos itens que compõem o patrimônio material e imaterial do teatro brasileiro. Todo o trabalho de inventário é supervisionado pela Comissão Permanente de Análise e Avaliação de Registro e Tombamento Cultural, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, que esteve representada pelo membro Júnior Ribeiro para acompanhar e participar do trabalho realizado na terça-feira.

Quem quiser seguir o trabalho de voluntariado do Acervo Histórico da FBT precisa entrar em contato pelo instagram @fbt.dulcina e se cadastrar por mensagem direta. Os dias de trabalho da equipe do acervo são terça, quinta e sábado, sempre das 10h30 às 15h.