”Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira” ecoa no refrão da música ‘Cria da Maré’, lançada neste fim de semana pela banda brasiliense Armada Pagu. A expressão, escrita originalmente pela feminista Audre Lorde, foi reverberada por Marielle Franco em seu último discurso, em 14 de março de 2018, dia em que foi assassinada junto ao seu motorista, Anderson Gomes. Um ano depois, é utilizada como mote pela banda para homenagear a vereadora e defensora dos direitos humanos, das mulheres e da comunidade LGBT.
“Essa frase, na voz de Marielle em seu último discurso, tocou de maneira tão profunda nossas almas que se tornou refrão da nossa primeira música autoral”, conta a vocalista e jornalista Ana Paula Leitão. De nome artístico Ana Ruiva, a cantora feminista lembra que a música nasceu ainda em 2018, quando as questões políticas e sociais do País gritaram a necessidade de resistência e engajamento. “O momento político em que vivemos exige posicionamento, não tem como fugir. E a música é, e sempre foi, uma ferramenta para protesto e mudança social”, complementou.
De acordo com Ana Ruiva, Armada Pagu é remanescente da banda Rouge Blue, que tocava em encontros de motociclistas como o “Torre Sobre Rodas” e o “Taguaparque Moto Rock”, além de bares e festas privadas em Brasília. “Nosso repertório era composto basicamente de blues, rock e soul, tudo internacional. Mas, em 2018, surgiu essa necessidade de cantarmos as questões do nosso tempo e do nosso País. Foi quando partimos para a música autoral”, explica a vocalista. Foi então que a banda mudou seu nome e a proposta musical, mantendo a mesma formação, com Ralph Sardela (baixo), Alexandre Gomide (guitarra), Júnior Souza (bateria) e Rodrigo Alvares (percussão).
O nome Armada Pagu faz referência à escritora, jornalista e ativista Patrícia Rehder Galvão (1910-1962), conhecida pelo pseudônimo de Pagu, primeira mulher brasileira a ser presa política no século XX, durante a ditadura de Getúlio Vargas.
Add a comment